O cuidado da casa comum, do nosso Planeta, é uma necessidade cada vez mais urgente. Daí a importância da Campanha da Fraternidade de 2025, que tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral”. As consequências da falta de cuidado são cada vez mais evidentes. Um exemplo disso é o acontecido na Vila de Tamaniquá, município de Juruá, na prelazia de Tefé.
Consequências das mudanças climáticas
Em um fenómeno que até agora não era comum, segundo relatam os moradores, por duas vezes o rio encheu e vazou de uma vez, muito rápido subiu muito e rápido, de modo que estão perdendo a mandioca que plantaram. Uma situação que, de diversos modos, se repete em diversos locais da Amazônia.
Foi nessa comunidade que o bispo da prelazia de Tefé, dom José Altevir da Silva, celebrou o Domingo de Ramos. Ele disse: “eu deixei a procissão de Ramos na catedral, para participar com os ribeirinhos atingidos pela cheia inesperada.” Chegando lá, o bispo viu a situação dos moradores, que “estão tentando salvar o que a água não levou, enfrentando água até o peito”, segundo esses moradores contaram para dom Altevir.
Nessa situação, o bispo contou que “não tendo terra para fazer a procissão, sugeri fazermos de canoa, a remo”, algo que ele disse ter sido significante. Para realizar a procissão se deu uma situação semelhante àquela que os evangelhos relatam. A coordenadora da comunidade Nossa Senhora Aparecida, dona Rita, uma mulher de quase 70 anos, analfabeta, que está à frente da comunidade por mais de 30 anos disse que tinha poucas canoas, pois os homens tinham levado para o roçado para salvar a roça.
A comunidade ia precisar
Quando uma outra mulher, dona Ana, foi pedir algumas canoas para os vizinhos, ela desamarrou as canoas e disse para eles palavras semelhantes àquelas que os discípulos disseram ao desamarrar o jumentinho que carregou Jesus: a comunidade ia precisar delas, mas logo ia devolver. Dom José Altevir da Silva, na homilia, refletia sobre isso, lembrando as palavras de Jesus aos seus discípulos caso alguém perguntasse por que estavam desamarrando o jumentinho: “o Senhor precisa dele”.
O bispo conta que no momento da procissão com os ramos, “os coroinhas, seguindo o rito, levaram uma bacia de plástico com água para benzer os ramos. Eles estavam certos, foi assim que aprenderam. Mas na hora da benção, eu pedi para fazermos a oração sobre o rio e a partir do rio benzemos os ramos”, destacando mais uma vez esse momento como algo “muito rico em significado.”
Comunidades acompanhadas por mulheres
Na maioria das comunidades ribeirinhas da Amazônia, as mulheres cuidam da vida de fé desse povo. Na simplicidade, elas se tornam verdadeiras testemunhas da presença de Deus no meio das pessoas. É nesses lugares que o povo sofre em maior medida as consequências das mudanças climáticas. Nessas situações, as pessoas descobrem em Deus e na comunidade a força para continuar lutando pela vida em plenitude para todos e todas.
É ali que cobra sentido a reflexão em torno à conversão ecológica. Da superação do pecado ecológico depende que essas pessoas possam continuar morando nesses locais. As mudanças climáticas têm consequências concretas na vida do povo, especialmente dos mais vulneráveis. Quando não reconhecemos isso, nos afastamos de Deus e do irmão, daqueles que hoje, de diversos modos, continuam sendo crucificados.