A transparência e a prestação de contas do trabalho pastoral são elementos que ninguém pode ignorar em uma Igreja sinodal. Para avançar nessa dinâmica, é necessário levar em consideração os contextos locais específicos, com suas características culturais e tradições históricas. Nada pode ser avaliado de forma abstrata e, além disso, promover a mais ampla participação, já que todos os membros do Povo de Deus podem e devem contribuir, fortalece esse caminho.
Cultura de transparência e responsabilidade
Para avançar nesse caminho sinodal, para poder caminhar juntos, para gerar atitudes que favoreçam a confiança mútua entre os membros do Povo de Deus, é necessário ir além da prática, para estabelecer uma cultura de transparência e responsabilidade. Somente assim a sinodalidade e a corresponsabilidade poderão se solidificar, pois isso mostrará o valor das ações realizadas no exercício dos diversos ministérios na comunidade. Ao contrário, a falta de transparência e de prestação de contas alimenta o clericalismo e a desconfiança.
Esses processos de transparência e prestação de contas precisam de instâncias e maneiras de avaliar o modo como as responsabilidades ministeriais de todos os tipos são exercidas, inclusive entre o clero. A avaliação, especialmente se participativa, permite ajustes apropriados nos planos pastorais e promove a capacidade de servir melhor os membros do Povo de Deus de acordo com suas respectivas vocações e articulação no serviço.
Trazer isso para a vida cotidiana da Igreja é um desafio para o avanço da sinodalidade prática. Na medida em que pensamos que estamos acima do bem e do mal, que não temos que prestar contas a ninguém, que não é necessário ser transparente, a vida da Igreja está desmoronando, a comunhão está se perdendo, a participação das pessoas é reduzida à expressão mínima e, na missão, o vigor necessário para que outros descubram no testemunho de cada batizado a força do Espírito de Deus está se dissipando.
A necessidade de conselhos pastorais e econômicos
Os conselhos pastorais e econômicos são um instrumento para aumentar a transparência, e se deve garantir que eles sejam ouvidos e que suas opiniões sejam levadas em consideração quando as decisões forem tomadas. Os conselhos devem ser vistos como uma necessidade em todas as instituições da igreja. Quando os vários ministérios que compõem o Povo de Deus são ignorados na composição dos conselhos, quando o planejamento pastoral e econômico é assunto de uma pessoa ou de um pequeno grupo que nada questiona, o Evangelho e, com ele, a vitalidade da Igreja, se perdem. Da mesma forma, a publicação de um relatório periódico e de um demonstrativo financeiro regular, e mostrar como tudo isso contribui para o desenvolvimento da missão, são atitudes que não podem mais ser ignoradas.
Por fim, não podemos ignorar que, para a devida prestação de contas, é necessário promover o acesso das mulheres a cargos de autoridade e sua participação nos processos decisórios, bem como a participação daqueles que exercem ministérios e cargos na Igreja nos processos de monitoramento e avaliação do desenvolvimento da missão. Nunca nos esqueçamos de que a sinodalidade não é uma teoria, mas uma prática, que precisa de instrumentos, entre os quais a transparência e a prestação de contas nunca podem estar ausentes.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1