Assembleia da CEAMA: Entender as conectividades na Amazônia para mitigar os ataques ao bioma e seus povos

A Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia, que está sendo realizada em Manaus com a presença de cerca de 70 pessoas, iniciou seus trabalhos com uma análise da conjuntura na região. Esse conhecimento ajuda a conversa no Espírito a discernir os passos a serem dados como CEAMA para o futuro.

Diferentes formas de conectividade

O ponto de partida foi uma leitura da Amazônia a partir das diferentes formas de conectividade, algo que está presente na região há milênios. A conectividade natural, como a água, mas também a conectividade humana, estabelecida pelos habitantes da região amazônica ao longo dos séculos, criando estratégias de adaptação ao ecossistema, segundo Fernando Roca, que mostrou a influência de algumas regiões da Amazônia sobre outras.

De acordo com o jesuíta peruano, muitas das formas de conectividade desenvolvidas pelos seres humanos representam uma ameaça, citando como exemplos a mineração ilegal, os madeireiros ilegais, o tráfico de drogas, o tráfico de pessoas, os grandes projetos de infraestrutura, o crescimento acelerado das cidades, a pecuária, o petróleo e o extrativismo desenfreado. Junto com isso, a existência de projetos de restauração ambiental foi destacada como um elemento positivo.

Diante dessa realidade, destacou que “a CEAMA tem o desafio de assumir um papel articulador na chave do Sínodo da Amazônia com governos, autoridades políticas, empresas, organizações multilaterais, povos indígenas, para proteger, ajudar a restaurar e mitigar ações que ameaçam o bioma e a vida de seus habitantes”.

Testemunhos do território

Do território, vários atores testemunharam a situação vivida pelos povos amazônicos. A região do Vicariato de Pando, na Amazônia boliviana, nas palavras de José Antônio Achipa Samanaca, foi marcada pela extração da borracha e da castanha e, atualmente, pela invasão de madeireiros, pecuaristas e garimpeiros ilegais, que causaram um grave desastre ambiental. Os povos indígenas estão perdendo sua cultura, sua língua, como resultado da miscigenação com aqueles que chegaram de outras regiões do país. A Igreja acompanha a vida das comunidades indígenas, com os leigos desempenhando um papel de liderança, dada a escassez de padres.

Marva é uma mulher indígena da Guiana, que falou sobre a dificuldade de chegar às comunidades, a invasão de mineiros e madeireiros, com o apoio do governo, e a falta de educação, “que nos deixa sem voz”, uma educação que não leva em conta o mundo indígena, o que levou à perda da língua e da identidade. Para combater essa situação, foi promovida a educação bilíngue em inglês e wapichana, com resultados positivos.

A Amazônia brasileira é marcada pela incapacidade do Estado brasileiro de atender às disposições da Constituição de 1988, especialmente no que diz respeito ao território, o chamado Marco Temporal. Essa situação está causando grande insegurança aos povos indígenas, tendo em vista a lei aprovada pelo Congresso Nacional que impede a demarcação de terras indígenas. Junto a isso, a proposta de uma mesa de negociação, que não é aceita pelos povos indígenas, pois “os direitos originários não podem ser negociados”, segundo a irmã Laura Vicuña Pereira Manso. Isso tem levado a ataques orquestrados contra os povos indígenas em todas as regiões do Brasil, com um alto número de mortos e feridos, além de perdas materiais e grave insegurança alimentar e jurídica. Nessa situação, há sinais de resistência, como a retomada de terras e mobilizações permanentes em nível nacional e internacional, ecoando as ameaças.

Educação na escuta e a partir dos territórios

Falando sobre a educação no território amazônico, Patricia Correa defendeu a necessidade de a Igreja Pan-Amazônica ter um diagnóstico que lhe permita ter impacto e liderança a partir das comunidades indígenas. De acordo com a ex-ministra da Educação do Peru, a Igreja pode dizer aos governos que existe uma proposta educacional enraizada na cultura. Dada a diversidade de expressões da educação bilíngue intercultural e a dinâmica sinodal, ela afirma que isso abre uma maneira de ver como construir propostas baseadas na escuta e a partir dos territórios, do conceito e da experiência.

Um caminho compartilhado, baseado em certos pressupostos, como a longa presença da Igreja no território, sua organização, a construção da proposta educacional a partir do nível local e a ideia de que todo projeto educacional é cultural. Daí surge uma pergunta: “Como podemos construir uma proposta educacional sinodal que inclua 377 povos indígenas que falam mais de 250 línguas nativas?” Essa é uma questão da qual os sistemas educacionais governamentais desistiram e para a qual a Igreja Sinodal pode dar uma resposta, que já aparece na Querida Amazônia quando fala da necessidade de levar em conta as experiências locais que contribuem com as cosmovisões. Para isso, propõe-se um caminho compartilhado e articulado, com uma rota compartilhada que construa cenários para estratégias de educação bilíngue intercultural.

Entre os diversos projetos presentes na Amazônia, Martín Fariña apresentou o projeto de reflorestamento em Madre de Dios (Peru), uma resposta à Laudato Si’ baseada nas capacidades e possibilidades locais, buscando fazer diferente, aprendendo com os erros, com o objetivo de restaurar a Amazônia.

Conversa no Espírito para construir caminhos de futuro

Seguindo o método de conversa no Espírito, os participantes da assembleia fizeram uma memória agradecida a partir das memórias da primeira assembleia, que pedia o diálogo entre os núcleos temáticos com a experiência das igrejas locais, maior interação entre os núcleos e a criação do núcleo da Casa Comum e da Ecologia Integral a partir de diferentes fundamentos. Pediu-se para conhecer a realidade de cada povo, escutar, dialogar e acompanhar os processos, com vistas a criar uma identidade amazônica para a CEAMA e promover uma Pastoral de Conjunto em um caminho compartilhado.

A CEAMA, fruto mais concreto da sinodalidade, é desafiada a superar as distâncias com as igrejas locais, a se perguntar como a CEAMA chega às igrejas locais e vice-versa. Para avançar na conversa espiritual, os participantes foram convidados a responder a uma pergunta: Desde a Assembleia do ano passado (agosto de 2023) até hoje, quais foram os principais frutos e desafios que resultaram de nossa caminhada como CEAMA durante esse tempo? Das respostas dependem os caminhos para o futuro, uma construção que deve ser um dos principais objetivos desta assembleia.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1