Por Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
No Dia da Mulher, as mulheres manauaras saíram às ruas da capital do Amazonas para continuar a luta pelos seus direitos. Muitos desses direitos são reconhecidos, mas não são efetivados, fazendo com que as mulheres, também na Amazônia, continuem sendo vítimas do feminicídio e de tantas outras situações que foram denunciadas ao longo da caminhada que partiu da Praça da Matriz e foi até o Largo de São Sebastião, na frente do Teatro Amazonas, um dos pontos mais emblemáticos da cidade.
Dentre as mulheres participantes, muitas delas eram católicas, representantes da Vida Religiosa e lideranças das pastorais, movimentos e comunidades, onde não podemos esquecer, elas têm um papel fundamental para que a Igreja da Amazônia continue sendo semente do Reino.
Ser mulher na Amazônia e na Igreja da região significa segundo a Ir. Sônia Matos “ser totalmente impregnada do Espírito de Deus que cria, ser solidária com a criação, solidária com os povos da floresta, com os povos da terra, e significa viver plenamente feliz, inserida neste território”. A superiora das irmãs adoradoras do Sangue de Cristo vê como desafios que são enfrentados, “o autoritarismo, o machismo, tanto na sociedade como na Igreja, e uma desqualificação, uma invisibilidade da mulher, que ela é excluída pelo simples fato de ser mulher, tanto na Igreja como na sociedade, ocupando nossos espaços que nos pertencem por direito e também pelo batismo”.
Diante do grande machismo e violência que existe em Manaus, Conceição Silva afirma que “ser mulher é resistir”, insistindo que como mulheres amazônicas, as mulheres têm que se precaver em suas relações. Ela faz um chamado a que aqueles que participam das pastorais lutem contra essa violência. Para isso demanda a necessidade de estar juntos, “todos os movimentos, todas as pastorais, para refletir sobre esse enorme número de feminicídios”, sendo o Dia da Mulher mais uma oportunidade para estar junto e refletir.
A mulher na Igreja da Amazônia, “ela tem que ter resiliência”, afirma a membro das Pastorais Sociais da Arquidiocese de Manaus. Ela destaca que “atualmente a Amazônia está sendo muito visada por todo mundo”, o que a leva a dizer que “nós como Igreja, nós temos que avançar, nós temos que lutar contra todo esse tipo de violência contra a natureza, contra os indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos. A gente tem que estar junto com eles, porque Jesus veio para os mais necessitados, Jesus não ficou só olhando, ele esteve no meio. As pastorais, os leigos na Amazônia têm que estar dedicados a estar junto, no meio do povo, esse é o verdadeiro Evangelho”.
O momento atual é de muito desafio como mulher, leiga, indígena na Amazônia, segundo Gorete Oliveira. Ela denuncia a dificuldade diante da falta de segurança, a complicação que é vivida no campo da educação, com grande dificuldade para entrar no ensino superior. A membro da Equipe Itinerante, diante dessa realidade, insiste em que “ser mulher na Amazônia é ser uma gigante, é lutar, lutar e nunca parar de lutar”.
“Sem as mulheres na Igreja da Amazônia, a gente não tinha praticamente nada”, afirma Guadalupe Souza Peres. A liderança na Arquidiocese de Manaus, “a presença das mulheres na Igreja neste chão amazônico é de fundamental importância, principalmente nas comunidades”, lembrando a falta de padres em muitas comunidades falta de padres, o que faz fundamental essa presença feminina. Para esse trabalho das mulheres, ela diz que “a dificuldade é o clericalismo muito grande”. Ela insiste em que não fala de “clericalismo dos padres, mas das pessoas que querem ser donas da Igreja, e no caso as mulheres encontram muitas barreiras também nessa parte”. Se referindo à sociedade, ela disse que “a gente sabe que a gente tem esse dia, mas todos os dias a gente luta para poder ter voz e vez na sociedade que a gente vive”.