Cardeal Steiner: “Na medida em que vamos caminhando na fé, nós vamos percebendo a presença de Jesus”

Na solenidade da Ascensão do Senhor, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia recordando que a liturgia dos últimos dias, “veio nos preparando para a solenidade que celebramos hoje. E a solenidade que celebramos hoje da Ascensão do Senhor nos prepara para a celebração de Pentecostes, que celebraremos no próximo domingo”. Nas leituras da última semana “Jesus estava como que se despedindo e preparando os discípulos para a vinda do Espírito Santo”.

Voltam com grande alegria

Na Solenidade da Ascenção, o Senhor “desaparece aos olhos e não é visto e não vendo adoram, e retornam à sua cotidianidade, ao seu dia a dia”. Junto com isso, segundo o cardeal refletiu, na primeira leitura, “Jesus foi elevado ao céu à vista deles”, destacando que longe de se entristecerem, os discípulos “voltam para Jerusalém com grande alegria”. O arcebispo disse que “é verdade, temos necessidade de ver. Ver nos dá a percepção de segurança e sabermos onde nos encontramos em determinado lugar. Ver nos faz perceber onde nos encontramos, mesmo quando nosso sofrimento. É que no ver, vemos mais do que os nossos olhos. Ver é aquela percepção de nos situarmos, nos localizarmos, nos encontrarmos. Ver, porque também os cegos veem”.

Analisando a primeira leitura, nos dois homens vestidos de branco, ele disse que “recordam aos apóstolos que a nova situação deve levá-los a caminhar, mas caminhar na esperança”. Um chamado a caminhar com aquele que “se fez caminho: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ele agora será visível no caminhar, e caminhando vemos Jesus”. Nesse sentido, ele sublinhou que “na medida em que vamos caminhando na fé, nós vamos percebendo a presença de Jesus, e o vemos”.

Jesus “faz descobrir nos passos sempre uma nuvem de não saber de antemão, invisível aos olhos, mas que faz fazer o caminho da luta, da labuta, da nossa cotidianidade. Ele encoberto pela nuvem dos nossos saberes, das nossas dogmatizações, das nossas definições, das nossas determinações”, disse o arcebispo de Manaus. Sobre o fato de os apóstolos serem conduzidos a Betânia, o cardeal recordou as palavras do venerável Beda, mostrando que Betânia significa “a casa da obediência”. É por isso que “foi para essa cidade da obediência, da atenção, da descoberta, da reverente audição que Jesus conduziu os seus discípulos porque viveram da nuvem do não-ser. Saber pré-determinado, um saber encoberto a ser descoberto, que é eterno na riqueza da presença de Deus em nossa humanidade. E Jesus continua presente no meio de nós, mesmo tendo subido aos céus”.

Permanecer na escuta

Algo que se faz presente na Liturgia, pois “quantas vezes nós dizemos, o Senhor esteja convosco, e nós respondemos, Ele está no meio de nós”, lembrou o cardeal. É por isso que Solenidade da Ascenção, “nos faz ver sem os olhos e permanecermos na escuta, na busca da presença salvadora, libertadora de Jesus, como quem perscruta o horizonte no deserto esperando chuva. E no perscrutar o horizonte da nossa cotidianidade, nos nossos afazeres, vemos o Senhor em contato. Coberto pela nuvem, mas vivo e presente no meio de nós. A ele ninguém viu, mas se nos amarmos uns aos outros e guardarmos a sua palavra, ele virá e fará em nós sua morada”, disse o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

“Nesse tatear, nesse buscar, nesse servir, nesse amar, é que somos tocados pela presença do Senhor, porque ele virá e fará em nós a sua morada. Ele se aproxima, nos toca e nos liberta. E vivemos numa espécie de eterna não fixação em Jesus. É como se Jesus sempre de novo fosse se revelando, através dos nossos momentos de oração, através do nosso serviço aos pobres, no cuidado do meio ambiente. A nossa assembleia celebrando presencializa Jesus que subiu aos céus, não estamos sós, continua no meio de nós”, refletiu o cardeal Steiner.

Seguindo as palavras de Paulo aos Efésios, o arcebispo de Manaus disse que “o caminho agora é o da esperança e nós estamos no Ano da Esperança”. Uma reflexão também presente em Santo Agostinho, que diz que “Cristo já foi elevado ao mais alto dos céus, contudo continua sofrendo na terra através das tribulações que nós experimentamos como seus membros”. É por isso, que ele enfatizou que “Cristo está no céu, mas também está conosco e nós, permanecendo na terra, estamos também com Ele e por sua divindade, por seu poder, por seu amor, Ele está conosco e nós, embora não possamos realizar isso pela divindade como Ele, ao menos podemos realizar pelo amor que temos aos irmãos e as irmãs”.

Ter olhos e coração para o encontrar

O cardeal recordou as palavras de Papa Francisco na Solenidade da Ascensão, que falava sobre a nova forma de presença de Jesus no meio de nós, que “pede-nos para ter olhos e coração para o encontrar, para servir, para testemunhar Jesus aos outros. Trata-se de ser homens e mulheres da ascensão. São os que já buscadores de Cristo nas sendas do nosso tempo, levando a sua Palavra de salvação até os confins da terra”. Segundo ele, “nesse caminho, nesse itinerário, encontramos o próprio Jesus nos irmãos e irmãs, sobretudo nos mais pequenos, sobretudo nos pobres, enquanto sofrem na própria carne a dura, mortificadora experiência de antigas e novas pobrezas. Assim, como inicialmente Cristo ressuscitado enviou seus apóstolos com a força do Espírito Santo, também hoje Ele nos envia com a mesma força para dar sinais concretos e visíveis de esperança”.

É por isso que Jesus “nos devolve a esperança, porque nos enviará o Espírito Santo”, disse o arcebispo. Segundo ele, “nessa visão e participação, recebemos gratuitamente os olhos da fé, que vê em novos céus e nova terra, e que a nuvem anuncia um novo tempo, o tempo da esperança”. Na Solenidade da Ascensão do Senhor, o cardeal Steiner pediu que “voltemos também nós, com alegria, a nossa cotidianidade, voltemos com satisfação ao dia a dia, para bem vivermos o dom de sermos participantes de Jesus, já agora também no céu”.

Finalmente, ele lembrou que Jesus “está vindo sempre para nos dar forças para caminhar, buscar, servir, anunciar o Reino Novo. Somos testemunhas de tudo isso, assim como foram os apóstolos”. E encerrou suas palavras pedindo que “Deus nos conceda a graça de voltarmos aos nossos afazeres, aos nossos cuidados, às vidas do dia a dia e nos alegrarmos com a presença de Jesus que nos acompanha nos caminhos da vida”.