A enfermidade do Papa Francisco, mais uma prova de um mundo e uma Igreja doente

A enfermidade do Papa Francisco, uma pneumonia bilateral, que provocou seu internamento no Hospital Gemelli de Roma, tem sido uma das notícias mais impactantes nas últimas duas semanas. As reações em torno a esse fato têm que nos levar a refletir como sociedade e como Igreja e assumir as doenças que nos atingem.

No final de muitas de suas mensagens e discursos, Francisco acostuma dizer “rezem por mim”, mas também é conhecido que, em diversos momentos, ele tem pedido, meio brincando, mas também fazendo um chamado a refletir, que essa oração seja a favor e não contra. Infelizmente, nos deparamos com pessoas, muitas delas que se dizem católicas, que pedem a morte do Papa e dizem rezar para que assim seja.

No último domingo, o Evangelho nos levava a entender a necessidade de sermos misericordiosos, de amar sempre e a todos, inclusive aos inimigos. A gente fica pensando diante daqueles que desejam a morte do Papa, certamente com um sentimento que nunca pode vir de Deus e sim de uma ideologia que tem levado à polarização na sociedade e na Igreja. Católicos, inclusive bispos, que promovem sentimentos de ódio contra os outros, inclusive contra o Papa.

Pessoas que sempre escolhem o caminho contrário àquele que nos indica o Sumo Pontífice como atitude vital. Um caminho que também é o contraponto daquilo que Deus nos diz em sua Palavra, principalmente na mensagem do Evangelho, que está claramente enfrentada com qualquer tentativa de polarização, uma atitude cada vez mais presente na sociedade e na Igreja católica e em outras Igrejas.

Devemos dizer abertamente que aqueles que promovem a polarização se afastam de Deus, aqueles que fomentam sentimentos de ódio estão longe de Deus. Tudo o que nos leva a gerar esses sentimentos tem que nos fazer refletir, ainda mais pelo fato de sermos cristãos. O discipulado tem que nos levar a um compromisso com a vida, a gerar sentimentos de comunhão, a saber caminhar juntos na diversidade de pensamentos.

Também tem que nos levar a refletir o excesso de vontade de mostrar que se reza pelo Papa, especialmente da parte daqueles, inclusive cardeais, que em muitos momentos tem se posicionado abertamente contra ele e desprezado suas palavras e ensinamentos. Quando alguém reza, e essa é uma necessidade na vida de todo cristão, não precisa publicá-lo constantemente. Tem pessoas que se aproveitam do mal alheio para ser mostrar, para tirar proveito.

Que ele tenha recuperado sua agenda de trabalho, que continue trabalhando do quarto do hospital onde ele está internado, é um claro sinal de que sua saúde melhora e que não vai demorar para ele voltar para o Vaticano. A prudência é necessária, mas sem cair no pessimismo. Uma pessoa de 88 anos, com uma grande carga de trabalho, com doenças crónicas que arrasta por muitos anos, é normal que sofra achaques de saúde, mas isso não pode ser oportunidade para confabular e gerar notícias falsas ou interessadas.

É claro que o mundo precisa de Francisco, daquele que é luz para tanta gente, daquele que é voz de tantas pessoas que nunca são escutadas e sempre são colocadas do lado de fora da história. Pensar o contrário, ainda mais rezar contra, é sinónimo de mentes doentes, que perderam sua humanidade e estão longe do Deus de Jesus Cristo.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 – Editorial Rádio Rio Mar