Reunidos em Manaus, no V Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, bispos, lideranças leigas e religiosos dedicaram a manhã do segundo dia da atividade para retomar as linhas prioritárias acordadas em Santarém, em 2021, à luz do Sínodo, das sínteses dos regionais e da análise de conjuntura. A proposta do dia é apontar compromissos para serem assumidos pela Igreja na Amazônia.
“Se temos um chamado, o foco não somos nós, mas o Reino de Deus”
O dia teve início com a celebração eucarística presidida por Dom Ricardo Hoepers, secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e bispo auxiliar da arquidiocese de Brasília. Durante a missa, ele destacou, à luz da primeira leitura da liturgia do dia, que uma das grandes tentações que o ser humano vive é a do domínio sobre o outro. “Quantas vezes falamos ontem sobre clericalismo. Não deixa de ser essa uma tentação de querer instrumentalizar o outro.”
Dom Ricardo ainda frisou que esse domínio gera violência e pode ser motivação de ódio e que o pastoreio pode ser comprometido quando colocado nessa perspectiva. “O domínio sobre o outro é uma maneira que o mundo vai criando sobre si de uma mentalidade egoística e isso não faz parte do Evangelho”, afirmou. “Se temos um chamado o foco não somos nós, mas o Reino de Deus. É ele que nos chama, nos convoca, nos reúne”, contrapôs Dom Ricardo, ao refletir sobre o Evangelho do dia.
“Deus nos chama, nos convoca com humildade. Vamos nos despir da prepotência, do domínio do outro. Superar a inveja e nos darmos as mãos, para que ninguém fique de fora. Nos darmos as mãos para fortalecer a missão, o Reino de Deus”, convocou Dom Ricardo aos bispos e lideranças leigas presentes na celebração da manhã.
Organizando os compromissos
Mediada por Dom Raimundo Possidônio, a sessão da manhã foi dedicada a um trabalho de grupo para discutir propostas de compromissos para a Igreja na Amazônia. A partir da escuta realizada nas diversas Igrejas Particulares da Amazônia Legal e das análises de conjuntura que apresentaram o cenário da realidade amazônica e dos diálogos realizados até aqui, verificou-se que há consideráveis e significativos avanços na realização das linhas prioritárias de Santarém 2022.
Foi dialogado, também, que há diversos entraves enfrentados nessa experiência de sinodalidade no que se refere ao fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base, destacando os aspectos da Ministerialidade e da participação das Mulheres; a formação dos discípulos missionários (laicato, presbiteral, vida consagrada; a defesa da vida dos povos da Amazônia e o cuidado com a Casa Comum, destacando as graves situações das migrações, mineração e megaprojetos); e a evangelização das juventudes.
“Por tudo isso sentimos que o Espírito chama a Igreja da Amazônia a ser um farol de esperança, justiça e amor em meio aos desafios da atualidade. Ele nos diz que a Igreja pode ser um instrumento de transformação e renovação promovendo a dignidade humana, a paz e a integridade da criação”, afirmou Dom Raimundo.
Os participantes foram, então, divididos em grupos e para ajudar na reflexão foram destacados alguns aspectos relevantes que ainda precisam de cuidados especiais da parte dos pastores da Igreja na Amazônia, tendo em vista a concretização do Reino de Deus, sintetizadas em 6 eixos: formação, ministerialidade, participação das mulheres, Casa Comum, sustentabilidade e caridade e profecia.
A partir dos eixos apresentados, cada grupo foi convidado a pensar em propostas concretas. Ao final da manhã, os participantes socializaram os trabalhos que foram recebidos pela equipe de metodologia do encontro. De acordo com Dom Gilberto, presidente da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia, a propostas serão sistematizadas e retornadas à plenária para deliberação do conjunto de bispos presentes.
A programação da tarde será dedicada ao diálogo sobre desdobramentos pós-sínodo que estão em curso, como o Rito Amazônico e a Ministerialidade. O encontro segue até quinta-feira, quando será apresentada a carta compromisso e as deliberações em vista da presença da Igreja na Amazônia.
Por: Paulo Martins, Comissão Episcopal para a Amazônia