A Comissão Episcopal da Adveniat esteve, entre os dias 3 e 8 de abril, em Manaus (AM), para uma visita a Amazônia brasileira para acompanhar a implementação das propostas do Sínodo para a Amazônia.
Além da Comissão, participaram os bispos do Regional Norte I, entre eles o presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica REPAM-Brasil e bispo de Roraima, Dom Evaristo Pascoal Spengler, a secretária regional, Irmã Rose Bertoldo, e outras lideranças da região.
Durante os dias, a Comitiva visitou a comunidade indígena Muray no município de Autazes, localizada na periferia de Manaus, a Casa Amazônica da Economia de Francisco e Clara e participou de uma reunião com a Equipe Itinerante. Além disso, houve uma reunião com representantes de várias instituições que ajudaram a aprofundar o conhecimento da realidade sob diferentes perspectivas.
Entre as várias realidades visitadas, Tanja Himer, vice-diretora da Adveniat, destaca a visita à comunidade indígena e a possibilidade de ouvir as vozes das pessoas, como elas se sentem, suas lutas pela vida, algo que ela diz ser novo para ela. Ela ressalta que da Alemanha eles podem lutar junto com a comunidade e conscientizar a população alemã de várias formas, já que muitas pessoas na Alemanha não sabem da situação dos povos amazônicos.
Aqueles que vivem sua fé na Igreja alemã sabem sobre a Querida Amazônia e o que o Papa Francisco diz sobre o cuidado com a nossa casa comum, segundo Himer. A vice-diretora da Adveniat mostra o desejo dessa instituição de continuar apoiando projetos na Amazônia, especialmente com os povos indígenas, ajudando-os em sua defesa em processos judiciais e em outras situações vividas por esses povos.
De acordo com o jesuíta Martin Maier, diretor da Adveniat, a visita “nos dá uma visão do que está acontecendo na Arquidiocese de Manaus”, insistindo no papel da Adveniat como ponte de solidariedade, inspiração e intercâmbio, ressaltando que as pontes são usadas em ambas as direções, na medida em que na Adveniat se dá, mas também se recebe, dizendo-se muito convencido da dimensão universal da Igreja, e que “somos uma comunhão de solidariedade, somos também uma comunhão de aprendizado”.
O diretor da Adveniat, que diz ter publicado recentemente um artigo em uma igreja alemã intitulado “A Igreja na América Latina, um laboratório de mudança”, enfatiza que “a Igreja na América Latina nas últimas décadas tem desempenhado o papel de precursora e de laboratório”. Ele cita como exemplos a fundação da primeira Conferência Episcopal do mundo no Brasil em 1952, o desenvolvimento de um magistério continental nas Conferências Gerais dos Bispos em Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida. Ele também menciona a Assembleia Eclesial Continental em novembro de 2021, o Sínodo para a Amazônia, que ele vê como um aprendizado para o atual Sínodo.
Sobre a Igreja latino-americana, o diretor afirmou ter a impressão de uma Igreja viva e jovem, em contraste com a crise na Igreja alemã, com muitas saídas da Igreja. Ele também destacou que eles receberam inspiração, encorajamento e testemunho de fé, algo que se manifesta nos muitos mártires das últimas décadas, entre eles o salesiano alemão Rodolfo Lukenbein e a irmã Dorothy Stang, que deu sua vida pela proteção do meio ambiente.
Sobre o que a Adveniat pode dar, ele enfatizou a solidariedade, a ajuda recolhida na coleta de Natal. Nesse sentido, ele lembra a ajuda que a Alemanha, devastada pela fome e pelo sofrimento, recebeu da América Latina após a Segunda Guerra Mundial. Quando a Alemanha se recuperou, os bispos decidiram dedicar a coleta de Natal à América Latina, que foi institucionalizada, conseguindo administrar atualmente cerca de 1.200 projetos, com um volume de mais de 30 milhões de euros.
A Igreja alemã também oferece à América Latina seu caminho sinodal iniciado em 2018, tendo como ponto de partida os escândalos sexuais principalmente por parte de clérigos na Igreja, descobrindo a necessidade de um caminho de conversão e renúncia, que considera o elemento fundamental do Sínodo na Alemanha, que determinou quatro áreas de reflexão: o poder na Igreja, a vida sacerdotal e a formação de sacerdotes, a moral sexual e o papel da mulher na Igreja, o que levou a decisões que foram tomadas após um processo de trabalho. Um caminho sinodal que está contribuindo para o Sínodo universal, insistindo na coincidência dos temas e no fato de que a Igreja alemã pode contribuir com esse caminho sinodal para a Igreja na América Latina.
Uma visita que tem ajudado a continuar dando passos comuns, a conhecer problemas presentes na Amazônia, como o tráfico de pessoas, uma realidade que é vista como algo natural na região e que está inter-relacionada com o tráfico de armas e drogas e a destruição do território, em cujo combate a Igreja Católica tem ajudado decisivamente, sobretudo após o Sínodo para a Amazônia, especialmente com o trabalho da Rede Um Grito pela Vida, em relação com a Cáritas e o Regional Norte1 da CNBB que tem esse combate como uma de suas ações permanentes.
A Igreja Católica também tem contribuído para o estudo de questões relacionadas à violência sexual e ao tráfico de pessoas, com contribuições como o Projeto Iça de Ação e Proteção, em parceria com a Cáritas da Alemanha, buscando desenvolver tecnologia social de qualidade para o atendimento de crianças vítimas de violência sexual em comunidades amazônicas. Isso deu lugar a projetos comuns nas igrejas locais da Regional Norte1, dando respostas mais consistentes.
A Igreja da Amazônia tem uma longa trajetória comum, que começou em 1952, antes da criação da CNBB, com o primeiro encontro dos bispos da Amazônia. Nessa caminhada, vale destacar o Encontro de Santarém, de 1972, que optou por uma evangelização encarnada na realidade e libertadora, pensando em uma mudança na dinâmica da evangelização, tornando-se mais transformadora e comunitária. Da mesma forma, a Conferência de Aparecida, a criação da REPAM, que está completando 10 anos, e depois a CEAMA, buscando articulações internacionais e luzes para uma aliança de ação, a defesa dos direitos humanos dos povos e a Justiça Socioambiental e o Bem Viver.
Da mesma forma, a Laudato Si e os seminários realizados para sua implementação, o processo de escuta do Sínodo para a Amazônia, que não é um ponto de partida, nem um ponto de chegada, mas um ponto alto no caminho, e sua posterior implementação, a partir do Documento Final e da Querida Amazônia, um caminho em que ajudou o encontro em Santarém em 2022, querendo avançar nos ministérios, no diaconato permanente entre os indígenas, no rito amazônico, no papel da mulher e no diaconato feminino. Junto com isso, o trabalho do Conselho Indigenista Missionário e da Vida Religiosa na Amazônia, buscando ser uma Igreja cada vez mais inculturada e próxima da realidade e da vida dos povos.
Fonte: REPAM-Brasil com informações de Luiz Miguel Modino*